"BRANCA DE NEVE, a linda princesinha que
habitava um velho castelo com sua madrasta, tinha a pele tão alva como os
flocos de neve, o cabelo e os olhos pretos como as asas dos corvos, e os lábios
vermelhinhos como cerejas maduras.
Enquanto
Branca de Neve foi pequenita, a madrasta que era vaidosa e má nunca teve
aborrecimentos ao interrogar desta maneira o seu espelho mágico:
- Haverá, no mundo inteiro, mulher mais bela do que eu? – pois o espelho,
invariavelmente lhe respondia:
- Senhora! Vós sois, sem dúvida, a mais bela mulher do mundo.
No dia em que Branca de
Neve completou 18 anos ao interrogar o espelho, o cristal que não sabia mentir
respondeu:
- Branca de Neve é mais linda que Vossa Majestade.
Cheia
de raiva, levava os dias a pensar como se havia de ver livre da enteada.
Certa manhã, chamou um pajem
e mandou-o levar Branca de Neve para o mais espesso do bosque onde lhe daria a
morte e lhe traria, ali, dentro daquele cofre de veludo escarlate, o coração da
enteada.
O pajem levou consigo a
menina mas… ao querer vibrar o golpe que a havia de matar, o braço ficou como
que paralisado. Os olhos de Branca de Neve cheios de lágrimas eram tão belos
que o pajem se afastou, pedindo apenas à princesa, que fugisse, fugisse para
tão longe que no palácio não lhe pudessem encontrar rasto.
Depois, ao afastar-se,
pensou que isso nunca poderia dar-se pois Branca de Neve seria devorada por
qualquer fera da floresta.
Passos andados, lembrou-se
o pajem de que não podia levar no cofre o coração da princesa, pois não a tinha
morto. Para remediar o mal, visou uma corça, matou-a, tirou-lhe o coração que
apresentou depois à rainha, como sendo o da enteada.
Mirou-o ela e remirou-o tão
satisfeita como se fosse jóia de alta valia.
Branca
de Neve, ficara perdida na floresta. O medo fê-la correr sem destino através
das árvores, cujos ramos ao baloiçarem-se se lhe afiguravam braços monstruosos,
que a queriam agarrar.
Quando
acordou já o sol varrera os medos e os terrores. À sua volta os pássaros
espreitavam-na, os esquilos rodeavam-na curiosos e as gazelas olhavam-na meio
assustadas.
Mal ela se mexeu, logo os
bichos se afastaram receosos mas Branca de Neve falou-lhes e a sua voz era tão
doce, que os animais a rodearam contentes e foi um esquilinho que lhe indicou a
casa dos anõezinhos da floresta, onde encontraria guarida.
Ao
encontrar a minúscula casinha, Branca de Neve entrou, e como visse tudo muito
abandonado e sujo, tudo limpou e pôs em ordem, como boa menina que era.
Depois comeu, bebeu água,
juntou as sete camas (pois eram sete os anõezinhos da floresta, que ali viviam)
umas às outras, deitou-se e adormeceu.
Entretanto
os sete anões voltavam da mina de diamantes, onde trabalhavam e ao entrarem em
casa, repararam que alguém ali estivera. Foram direitos às camas e o seu pasmo
foi enorme. Um gigante por certo estava ali deitado. Propunham-se matá-lo
quando, ao destaparem a cara de Branca de Neve, ficaram maravilhados com tanta
beleza e frescura.
Devagarinho, afastaram-se e
cada um procurou lugar onde dormisse.
De manhã, Branca de Neve
acordou, e ao ver os anões que a rodeavam e começavam a interrogá-la,
sorriu-se.
Branca de Neve contou então
quanto se passara com o pajem, e os sete anões, vendo o perigo que a
princesinha corria, logo se ofereceram para a protegerem.
Branca de Neve tomou conta
da casa da floresta, onde ela, passados dias já tinha cama a seu contento, pois
os anões lha fizeram com toda a pressa e carinho.
No
palácio a rainha má, foi um dia interrogar o espelho e furiosa, quase o fizera
em pedaços ao ouvir-lhe a amarga resposta:
- Senhora, para lá dos montes, na casa dos anões, Branca de Neve é
a mais linda…
Então o pajem mentira-lhe?
Como era dada às artes
mágicas preparou um filtro que bebeu e logo se transformou em horrenda bruxa,
de longo queixo afiado e de mãos secas e unhas em garras.
Antes, preparara também uma
maçã de tentadora aparência mas que tinha o maléfico poder de deixar cair em
sono semelhante ao da morte, todo aquele que a trincasse.
Na pressa, não reparara na
nota com que terminava a receita do maravilhoso veneno:
«Deste sono acordará todo aquele que receber em sua fronte o beijo
de amor do bem-amado.»
Senhora
da maçã que a iria libertar da enteada, a rainha má, aí foi pela floresta fora.
Fingindo-se cansada, a
rainha sentou-se nos degraus da escada dos anões e amaciando a voz procurou
enternecer Branca de Neve que assomava à janela.
- Venho tão cansada e sou tão velha! Não tendes gota de água que me
dês?
Compadecida, a princesinha
mandou entrar a velha e deu-lhe água dum cântaro que tinha.
De conversa em conversa a
rainha mostrou-lhe a maçã, que levava, e os olhos negros de Branca de Neve
animaram-se, tentados.
- Cravai o dente e vereis que perfumado sabor tem.
Branca de Neve hesitou mas,
por fim, deu uma dentadinha no apetecido fruto.
Logo a pobrezita caiu no
chão como morta.
Em
risadas de contentamento, a rainha afastou-se mas não tardou a ser perseguida
pela chuva, pelo vento e até pelos anões que, prevenidos pelos bichos da
floresta que algo se dera na sua casinha, pois uma bruxa má para ali fora,
acorreram com pás e picaretas a fim de liquidar quem quer que fosse, que
tivesse feito mal a Branca de Neve.
Subiu a velha para o alto
dum penhasco e tentou por meio do bordão e do seu poder maléfico fazer rolar a
pedra para cima dos anões, mas, na perturbação errou as palavras mágicas e o
rochedo rolou sobre ela e despenhou-a no abismo.
Voltaram
os anõezinhos a toda a pressa para casa e, ao verem a princesinha morta,
desfizeram-se em lágrimas.
Choraram com eles os bichos
da floresta, as folhas caíram das árvores, como lágrimas, e tudo em volta era
luto e dor.
Passos rápidos, de cavalo,
fizeram com que os olhares se afastassem do corpo de Branca de Neve para ver
quem vinha perturbar o seu desgosto.
Era um príncipe, um lindo
príncipe, que se perdera da sua comitiva, entrou na casinha da floresta e, ao
ver Branca de Neve, recordou-se de em tempos a ter visto numa varanda do
palácio da madrasta. Até guardara em seu peito uma rosa que Branca de Neve lhe
atirara.
Ajoelhou-se o príncipe,
beijou a fronte da bem-querida e logo, com pasmo de todos, Branca de Neve,
abriu os olhos e, ao reconhecer o príncipe, sorriu cheia de contentamento.
Os
anões exultaram de contentes e Branca de Neve, seguiu a cavalo, com o príncipe
para o palácio onde, com grande aparato, se celebraram os esponsais.
Os anõezinhos tinham
lágrimas de saudade e de alegria e agitavam os seus carapuços dando vivas ao
príncipe e a Branca de Neve."
FIM
Sem comentários:
Enviar um comentário