11 de maio de 2012

Branca de Neve




"BRANCA DE NEVE, a linda princesinha que habitava um velho castelo com sua madrasta, tinha a pele tão alva como os flocos de neve, o cabelo e os olhos pretos como as asas dos corvos, e os lábios vermelhinhos como cerejas maduras.

Enquanto Branca de Neve foi pequenita, a madrasta que era vaidosa e má nunca teve aborrecimentos ao interrogar desta maneira o seu espelho mágico:
- Haverá, no mundo inteiro, mulher mais bela do que eu? – pois o espelho, invariavelmente lhe respondia:
- Senhora! Vós sois, sem dúvida, a mais bela mulher do mundo.
No dia em que Branca de Neve completou 18 anos ao interrogar o espelho, o cristal que não sabia mentir respondeu:
- Branca de Neve é mais linda que Vossa Majestade.

Cheia de raiva, levava os dias a pensar como se havia de ver livre da enteada.
Certa manhã, chamou um pajem e mandou-o levar Branca de Neve para o mais espesso do bosque onde lhe daria a morte e lhe traria, ali, dentro daquele cofre de veludo escarlate, o coração da enteada.
O pajem levou consigo a menina mas… ao querer vibrar o golpe que a havia de matar, o braço ficou como que paralisado. Os olhos de Branca de Neve cheios de lágrimas eram tão belos que o pajem se afastou, pedindo apenas à princesa, que fugisse, fugisse para tão longe que no palácio não lhe pudessem encontrar rasto.
Depois, ao afastar-se, pensou que isso nunca poderia dar-se pois Branca de Neve seria devorada por qualquer fera da floresta.
Passos andados, lembrou-se o pajem de que não podia levar no cofre o coração da princesa, pois não a tinha morto. Para remediar o mal, visou uma corça, matou-a, tirou-lhe o coração que apresentou depois à rainha, como sendo o da enteada.
Mirou-o ela e remirou-o tão satisfeita como se fosse jóia de alta valia.

Branca de Neve, ficara perdida na floresta. O medo fê-la correr sem destino através das árvores, cujos ramos ao baloiçarem-se se lhe afiguravam braços monstruosos, que a queriam agarrar.


Exausta, caiu no chão a chorar e o próprio choro a embalou e a fez adormecer.

Quando acordou já o sol varrera os medos e os terrores. À sua volta os pássaros espreitavam-na, os esquilos rodeavam-na curiosos e as gazelas olhavam-na meio assustadas.



Mal ela se mexeu, logo os bichos se afastaram receosos mas Branca de Neve falou-lhes e a sua voz era tão doce, que os animais a rodearam contentes e foi um esquilinho que lhe indicou a casa dos anõezinhos da floresta, onde encontraria guarida.

Ao encontrar a minúscula casinha, Branca de Neve entrou, e como visse tudo muito abandonado e sujo, tudo limpou e pôs em ordem, como boa menina que era.
Depois comeu, bebeu água, juntou as sete camas (pois eram sete os anõezinhos da floresta, que ali viviam) umas às outras, deitou-se e adormeceu.

Entretanto os sete anões voltavam da mina de diamantes, onde trabalhavam e ao entrarem em casa, repararam que alguém ali estivera. Foram direitos às camas e o seu pasmo foi enorme. Um gigante por certo estava ali deitado. Propunham-se matá-lo quando, ao destaparem a cara de Branca de Neve, ficaram maravilhados com tanta beleza e frescura.
Devagarinho, afastaram-se e cada um procurou lugar onde dormisse.
De manhã, Branca de Neve acordou, e ao ver os anões que a rodeavam e começavam a interrogá-la, sorriu-se.
Branca de Neve contou então quanto se passara com o pajem, e os sete anões, vendo o perigo que a princesinha corria, logo se ofereceram para a protegerem.
Branca de Neve tomou conta da casa da floresta, onde ela, passados dias já tinha cama a seu contento, pois os anões lha fizeram com toda a pressa e carinho.

No palácio a rainha má, foi um dia interrogar o espelho e furiosa, quase o fizera em pedaços ao ouvir-lhe a amarga resposta:
- Senhora, para lá dos montes, na casa dos anões, Branca de Neve é a mais linda…
Então o pajem mentira-lhe?
Como era dada às artes mágicas preparou um filtro que bebeu e logo se transformou em horrenda bruxa, de longo queixo afiado e de mãos secas e unhas em garras.
Antes, preparara também uma maçã de tentadora aparência mas que tinha o maléfico poder de deixar cair em sono semelhante ao da morte, todo aquele que a trincasse.
Na pressa, não reparara na nota com que terminava a receita do maravilhoso veneno:
«Deste sono acordará todo aquele que receber em sua fronte o beijo de amor do bem-amado.»

Senhora da maçã que a iria libertar da enteada, a rainha má, aí foi pela floresta fora.
Acompanhavam-na dois abutres, pois farejavam que haveria morte certa.
Fingindo-se cansada, a rainha sentou-se nos degraus da escada dos anões e amaciando a voz procurou enternecer Branca de Neve que assomava à janela.
- Venho tão cansada e sou tão velha! Não tendes gota de água que me dês?
Compadecida, a princesinha mandou entrar a velha e deu-lhe água dum cântaro que tinha.
De conversa em conversa a rainha mostrou-lhe a maçã, que levava, e os olhos negros de Branca de Neve animaram-se, tentados.
- Cravai o dente e vereis que perfumado sabor tem.
Branca de Neve hesitou mas, por fim, deu uma dentadinha no apetecido fruto.
Logo a pobrezita caiu no chão como morta.

Em risadas de contentamento, a rainha afastou-se mas não tardou a ser perseguida pela chuva, pelo vento e até pelos anões que, prevenidos pelos bichos da floresta que algo se dera na sua casinha, pois uma bruxa má para ali fora, acorreram com pás e picaretas a fim de liquidar quem quer que fosse, que tivesse feito mal a Branca de Neve.
Subiu a velha para o alto dum penhasco e tentou por meio do bordão e do seu poder maléfico fazer rolar a pedra para cima dos anões, mas, na perturbação errou as palavras mágicas e o rochedo rolou sobre ela e despenhou-a no abismo.

Voltaram os anõezinhos a toda a pressa para casa e, ao verem a princesinha morta, desfizeram-se em lágrimas.
Choraram com eles os bichos da floresta, as folhas caíram das árvores, como lágrimas, e tudo em volta era luto e dor.
Passos rápidos, de cavalo, fizeram com que os olhares se afastassem do corpo de Branca de Neve para ver quem vinha perturbar o seu desgosto.
Era um príncipe, um lindo príncipe, que se perdera da sua comitiva, entrou na casinha da floresta e, ao ver Branca de Neve, recordou-se de em tempos a ter visto numa varanda do palácio da madrasta. Até guardara em seu peito uma rosa que Branca de Neve lhe atirara.
Procurara-a mas disseram-lhe que morrera e ali estava realmente morta, agora que a encontrara.
Ajoelhou-se o príncipe, beijou a fronte da bem-querida e logo, com pasmo de todos, Branca de Neve, abriu os olhos e, ao reconhecer o príncipe, sorriu cheia de contentamento.

Os anões exultaram de contentes e Branca de Neve, seguiu a cavalo, com o príncipe para o palácio onde, com grande aparato, se celebraram os esponsais.
Os anõezinhos tinham lágrimas de saudade e de alegria e agitavam os seus carapuços dando vivas ao príncipe e a Branca de Neve."

FIM

Sem comentários:

Enviar um comentário